OCEPE

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A área de Formação Pessoal e Social é considerada uma área transversal, porque, embora tenha uma intencionalidade e conteúdos próprios, está presente em todo o trabalho educativo realizado no jardim de infância. Tal deve-se ao facto de esta ter a ver com a forma como as crianças se relacionam consigo próprias, com os outros e com o mundo, num processo de desenvolvimento de atitudes, valores e disposições, que constituem as bases de uma aprendizagem bem-sucedida ao longo da vida e de uma cidadania autónoma, consciente e solidária.


A área de Formação Pessoal e Social assenta, tal como as outras, no reconhecimento da criança como sujeito e agente do processo educativo, cuja identidade única se constrói em interação social, influenciando e sendo influenciada pelo meio que a rodeia.

É nos contextos sociais em que vive, nas relações e interações com outros e com o meio que a criança vai construindo referências, que lhe permitem tomar consciência da sua identidade e respeitar a dos outros, desenvolver a sua autonomia como pessoa e como aprendente, compreender o que está certo e errado, o que pode e não pode fazer, os direitos e deveres para consigo e para com os outros, valorizar o património natural e social.

 

Educação para os valores

É nessa inter-relação que a criança vai aprendendo a atribuir valor aos seus comportamentos e atitudes e aos dos outros, reconhecendo e respeitando valores que são diferentes dos seus. A educação pré-escolar tem um papel importante na educação para os valores, que não se “ensinam”, mas se vivem e aprendem na ação conjunta e nas relações com os outros.

São os valores subjacentes à prática do/a educador/a e o modo como os concretiza no quotidiano do jardim de infância que permitem que a educação pré-escolar seja um contexto social e relacional facilitador da Formação Pessoal e Social. Ao demonstrarem atitudes de tolerância, cooperação, partilha, sensibilidade, respeito, justiça, etc. para com as crianças e adultos (outros profissionais e pais/famílias), os/as educadores/as contribuem para que as crianças reconheçam a importância desses valores e se apropriem deles.

 

Contexto democrático da vida em grupo

O desenvolvimento da Formação Pessoal e Social baseia-se na organização do ambiente educativo, construído como um ambiente relacional e securizante, em que a criança é valorizada e escutada, o que contribui para o seu bem-estar e autoestima, e, ainda, como um contexto democrático em que as crianças participam na vida do grupo e no desenvolvimento do processo da aprendizagem.

 

Desenvolvimento do sentido estético

O ambiente educativo estará também organizado como um espaço que favorece a educação estética, sendo que a educação pré-escolar proporcionará também múltiplas oportunidades de apreciar a beleza noutros contextos e situações, contactos com a natureza, a paisagem e com a cultura, que favorecem o desenvolvimento do sentido estético. A Formação Pessoal Social contribui, assim, para o desenvolvimento de valores éticos, mas também estéticos.

 

Contacto com diversas manifestações de cultura

A área de Formação Pessoal e Social, tendo conteúdos próprios, está intimamente relacionada com todas as outras áreas de conteúdo, que contribuem ou são uma ocasião para o seu desenvolvimento. Assim, os saberes, a curiosidade e o desejo de aprender das crianças são alargados através do contacto com as diversas manifestações de cultura a que essas áreas correspondem, permitindo, simultaneamente, desenvolver projetos que as mobilizam, de modo articulado e globalizante.

 

Desenvolvimento da criatividade

Ao participar ativamente no seu processo de aprendizagem, a criança vai mobilizar e integrar um conjunto de experiências, saberes e processos, atribuindo-lhe novos significados e encontrando formas próprias de resolver os problemas, o que lhe permite desenvolver não só a autonomia, mas também a criatividade.

Dada a transversalidade da área de Formação Pessoal e Social, diversas aprendizagens enunciadas nesta área são retomadas noutras áreas, entendendo-se essas aprendizagens como correspondendo a um processo progressivo que, realizado ao longo da educação pré-escolar, terá continuidade ao longo da vida. Nessas aprendizagens interligadas consideram-se quatro componentes:

  • Construção da identidade e da autoestima;
  • Independência e autonomia;
  • Consciência de si como aprendente;
  • Convivência democrática e cidadania.

 

Construção da identidade e da autoestima

 

Reconhecimento e aceitação das características individuais

A construção da identidade passa pelo reconhecimento das características individuais e pela compreensão das capacidades e dificuldades próprias de cada um, quaisquer que estas sejam. Nas crianças em idade pré-escolar, a noção do eu está ainda em construção e é influenciada positiva ou negativamente pelo modo como os adultos significativos e as outras crianças a reconhecem.

A construção da autoestima depende, assim, da forma como os adultos, nomeadamente o/a educador/a, intencionalmente valorizam, respeitam, estimulam a criança e encorajam os seus progressos, pelo modo como apoiam as relações e interações no grupo, para que todas as crianças se sintam aceites e as suas diferenças consideradas como contributos para enriquecer o grupo e não como fonte de discriminação ou exclusão.

 

Identidade e igualdade de género

Ser menino ou menina é um aspeto central na construção da identidade e as crianças em idade pré-escolar vão assumindo comportamentos conformes com as expetativas culturais sobre o que é apropriado fazer enquanto membro de um ou de outro grupo, manifestando estereótipos culturais referentes aos homens e às mulheres. Importa que o/a educador/a esclareça estes estereótipos discriminatórios com as crianças, questionando situações que vão ocorrendo na vida do grupo, e que também reflita sobre as suas atitudes, os materiais, e recursos e atividades que propõe.

 

Reconhecimento e de laços de pertença social e cultural

Neste processo de construção de identidade e da autoestima, o reconhecimento das características singulares de cada criança desenvolve-se simultaneamente com a perceção do que tem em comum e do que a distingue de outros, pelo que o reconhecimento de laços de pertença social e cultural faz também parte da construção da identidade e da autoestima. Esta construção é apoiada pelo/a educador/a, ao respeitar e valorizar a cultura de cada criança e da sua família.

Aprendizagens a promover:

  • Conhecer e aceitar as suas características pessoais e a sua identidade social e cultural, situando-as em relação às de outros.
  • Reconhecer e valorizar laços de pertença social e cultural.

Estas aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança:

  • Identifica as suas características individuais (sexo, idade, nome, etc.), e reconhece semelhanças e diferenças com as características dos outros.
  • Verbaliza as necessidades relacionadas como o seu bem-estar físico (tem fome, tem que ir à casa de banho).
  • Expressa as suas emoções e sentimentos (está triste, contente, etc.) e reconhece também emoções e sentimentos dos outros.
  • Manifesta os seus gostos e preferências (alimentos, locais, jogos, etc.).
  • Mantém e justifica as suas opiniões, aceitando também as dos outros. 
  • Demonstra prazer nas suas produções e progressos (gosta de mostrar e de falar do que faz, de comunicar o que descobriu e aprendeu).
  • Revela confiança em experimentar atividades novas, propor ideias e falar em grupo.
  • Aceita algumas frustrações e insucessos (perder ao jogo, dificuldades de realizar atividades e tarefas) sem desanimar, procurando formas de as ultrapassar e de melhorar (pedindo ajuda do/a educador/a ou de outras crianças, ensaiando outras formas de fazer, ou procurando novos materiais).
  • Representa papéis e situações da sua cultura familiar em momentos de jogo dramático.
  • Reconhece a sua pertença a diferentes grupos sociais (família, escola, comunidade, entre outros). 
  • Identifica e valoriza traços da sua cultura familiar, mas também os de outras culturas, compreendendo o que têm de comum e de diferente e que as culturas vão evoluindo.

 

O/A educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:

  • Valoriza e respeita cada criança, manifestando essa atitude de modo a que constitua um modelo da relação entre crianças.
  • Está atento a cada criança e ao que esta pretende transmitir, verbal ou não verbalmente. 
  • Identifica e valoriza o comportamento positivo da criança.
  • Apoia a criança a expressar opiniões sobre o que vê, ouve ou sente.
  • Respeita a diferença e tira proveito da diversidade como meio de enriquecimento do ambiente educativo e do processo de aprendizagem.
  • Manifesta respeito pelas culturas familiares de cada criança, (tendo, por ex., na sala materiais representativos dessas culturas).
  • Promove o sentido de pertença da criança a uma comunidade, facilitando as interações com pessoas e recursos e com o contexto próximo. 
  • Alarga as referências culturais das crianças através do contacto com diferentes recursos e formas de cultura. 

 

Independência e autonomia

 

Independência para saber cuidar de si, assumir responsabilidades na sua segurança e bem-estar

Adquirir maior independência significa, na educação pré-escolar, ser progressivamente capaz de cuidar de si e utilizar os materiais e instrumentos à sua disposição. A independência das crianças e do grupo passa também por uma apropriação do espaço e do tempo que constitui a base de uma progressiva autonomia.

 

Autonomia para fazer escolhas e tomar decisões

A construção da autonomia envolve uma partilha de poder entre o/a educador/a e as crianças, que têm a possibilidade de fazer escolhas e tomar decisões, assumindo progressivamente responsabilidades pela sua segurança e bem-estar, não só no jardim de infância, mas também em diversas situações da vida, demonstrando progressivamente consciência dos perigos que pode correr e da importância de hábitos de vida saudável.

A construção dessa autonomia passa por uma organização social participada do grupo em que as regras, elaboradas e negociadas entre todos, são compreendidas pelas crianças, e em que cada uma se compromete a aceitá-las, conduzindo a uma autorregulação do comportamento. Esta autonomia passa igualmente pela decisão coletiva sobre as tarefas necessárias ao bom funcionamento do grupo e a sua distribuição equitativa. Esta participação da vida no grupo permite às crianças tomarem iniciativas e assumirem responsabilidades, de modo a promover valores democráticos, tais como a participação a justiça e a cooperação. 


Aprendizagens a promover:

  • Saber cuidar de si e responsabilizar-se pela sua segurança e bem-estar.
  • Ir adquirindo a capacidade de fazer escolhas, tomar decisões e assumir responsabilidades, tendo em conta o seu bem-estar e o dos outros.

Estas aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança: 

  • Realiza de forma cada vez mais independente as tarefas indispensáveis à vida do dia a dia (vestir-se, despir-se, lavar-se, comer utilizando adequadamente os talheres, etc.).
  • Conhece os materiais disponíveis, a sua localização e se apropria progressivamente da utilização de jogos, tintas, pincéis, lápis etc., servindo-se deles com cuidado e arrumando-os quando já não precisa. 
  • Conhece os diferentes momentos da rotina diária, a sua sucessão, o que faz em cada um deles e para quê. 
  • Escolhe as atividades que pretende realizar e vai adquirindo progressivamente maior autonomia na seleção dos recursos disponíveis para as levar a cabo, sem perturbar o grupo.
  • Se encarrega das tarefas que se comprometeu realizar, executando-as de forma cada vez mais autónoma.
  • Adquire um maior controlo do seu corpo, força, agilidade, equilíbrio e coordenação muscular que lhe permitem realizar progressivamente movimentos mais complexos e precisos (subir e descer escadas, trepar, encaixar, recortar, etc.).
  • Conhece e compreende a importância de normas e hábitos de vida saudável e de higiene pessoal e vai procurando pô-los em prática (distingue os alimentos saudáveis e a sua importância para a saúde, porque é importante fazer regularmente exercício físico, porquê e quando é preciso lavar as mãos e os dentes, etc.).
  • Tem consciência dos riscos físicos que pode correr e adota normas de segurança em casa, no jardim de infância e na rua (tem alguma consciência e cuidado em situações em que se pode magoar, pedindo ajuda quando necessita, conhece e cumpre os cuidados a atravessar ruas, identifica o rótulo de perigo de produtos, etc.).
  • Se preocupa com o bem-estar e segurança das outras crianças, alertando o adulto quando se apercebe que alguma corre perigo.

 

O/A educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:

  • Dá oportunidade e tempo à criança para realizar as tarefas do dia a dia.
  • Organiza as áreas e materiais da sala, com a participação das crianças, para que se apropriem da utilização do espaço e da localização dos diferentes tipos de material.
  • Observa a utilização do espaço para saber da sua adequação ao grupo e consulta as crianças na sua modificação.
  •  Fala com as crianças sobre os momentos da rotina e sobre o que se faz em cada um deles.
  • Facilita as escolhas das crianças, dando-lhes tempo para decidir, apoiando as suas iniciativas para as enriquecer e complexificar.
  • Negoceia as tarefas necessárias à vida do grupo (tratar dos animais, arrumação da sala).
  • Vai construindo com o grupo regras comuns, facilitando a compreensão da sua razão e debatendo alternativas ao que não se deve fazer.
  • Incentiva as crianças a encontrarem as suas formas próprias de resolução de problemas, ajudando-as quando recorrem ao/à educador/a.
  • Sensibiliza as crianças para os problemas de segurança (materiais perigosos, segurança rodoviária, etc.).
  • Tendo em conta o contexto, os interesses e questões colocadas pelas crianças, promove a importância dos hábitos de vida saudável. 
  • Envolve as famílias na construção da independência e autonomia, nomeadamente nos cuidados de segurança e saúde.

 

Consciência de si como aprendente

A construção da autonomia não passa apenas pela participação na organização social do grupo, mas está também presente no desenvolvimento do processo de aprendizagem, em que as crianças escolhem o que querem fazer, fazem propostas e colaboram nas propostas do/a educador/a e das outras crianças, cooperam na elaboração de projetos comuns, sendo assim envolvidas no planeamento e na avaliação da aprendizagem. 

 

Consciência de si como sujeito que aprende

O desenvolvimento da consciência de si como sujeito que aprende tem como ponto de partida o que as crianças sabem e faz sentido para elas, tendo o/a educador/a um papel essencial ao refletir com as crianças sobre o processo de aprendizagem - o modo como fizeram, que saberes consideram ter adquirido e como podem continuar a aprender -, valorizando os diversos modos de aprender. Este processo é facilitado quando o/a educador/a dialoga com as crianças sobre o que estão a fazer, coloca questões e dá sugestões, dando oportunidade para que elaborem, retomem e revejam as suas ideias, envolvendo-se numa construção conjunta do pensamento. 

 

Apoio à autorregulação da aprendizagem e à construção conjunta do pensamento

A participação no seu processo de aprendizagem, em que cada criança se vai apercebendo do que aprendeu, como aprendeu e como ultrapassou dificuldades, permite-lhe ir tomando consciência de si enquanto aprendente. Esta consciência promove a persistência, a autoconfiança e o gosto por aprender, para que progressivamente se vá tornando capaz de autorregular a sua aprendizagem, isto é, “aprenda a aprender”.

 

Partilha das aprendizagens com o grupo

A consciência de si como aprendente não é apenas individual, mas alarga-se e enriquece-se pela partilha das aprendizagens no grupo. Cabe ao/a educador/a apoiar as crianças a cooperarem entre si, a exporem as suas ideias e a debaterem a forma como fizeram e poderiam melhorar, a fim de que cada criança contribua para a aprendizagem de todos e tome também consciência de si como aprendente. 

Essa consciência, iniciada na educação pré-escolar, irá ajudar a criança a enfrentar os desafios que se lhe vão ser colocados posteriormente e ao longo da vida. 


Aprendizagens a promover: 

  • Ser capaz de ensaiar diferentes estratégias para resolver as dificuldades e problemas que se lhe colocam.
  • Ser capaz de participar nas decisões sobre o seu processo de aprendizagem.
  • Cooperar com outros no processo de aprendizagem.

Estas aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança: 

  • Manifesta curiosidade pelo mundo que a rodeia, formulando questões sobre o que observa.
  • Revela interesse e gosto por aprender, usando no quotidiano as novas aprendizagens que vai realizando.
  • Expressa as suas opiniões, preferências e apreciações críticas, indicando alguns critérios ou razões que as justificam. 
  • Contribui para o funcionamento e aprendizagem do grupo, fazendo propostas, colaborando na procura de soluções, partilhando ideias, perspetivas e saberes e reconhecendo o contributo dos outros.
  • Participa na planificação de atividades e de projetos individuais e coletivos cada vez mais complexos, explicitando o que pretende fazer, tendo em conta as escolhas dos outros e contribuindo para a elaboração de planos comuns.
  • Colabora em atividades de pequeno e grande grupo, cooperando no desenrolar do processo e na elaboração do produto final.
  • É progressivamente capaz de explicitar e de partilhar com o/a educador/a e as outras crianças o que descobriu e aprendeu. 
  •  Avalia, apreciando criticamente, os seus comportamentos, ações e trabalhos, bem como os dos colegas, dando e pedindo sugestões para melhorar.
  • Expressa as suas ideias, para criar e recriar atividades, materiais e situações do quotidiano e para encontrar novas soluções para problemas que se colocam (na vida do grupo, na aprendizagem), com recurso a diferentes tipos de linguagem (oral, escrita, matemática e diferentes linguagens artísticas). 

 

O/A educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:

  • Estimula a curiosidade das crianças, chamando a atenção para o que as rodeia, e questiona as suas observações. 
  • Apoia as crianças a relacionar o que já sabem com o que aprendem de novo.
  • Escuta o que as crianças têm para dizer, apoiando a explicitação das suas razões, chamando a atenção para a diversidade de opiniões, a importância de as respeitar, procurando articular os diferentes contributos, e ajudar o grupo a chegar a novas conclusões.
  • Apoia as crianças a explicitarem o que vão fazer e como, e também a relatarem o que fizeram e como, envolvendo-as nos processos de planeamento, realização e avaliação (individual, a pares, em pequeno grupo e em grande grupo).
  • Acompanha as experiências que as crianças realizam, proporcionando um diálogo interativo entre elas, e envolvendo-se nesse diálogo, colocando perguntas abertas e incentivando a explicitação das suas ideias, de modo a facilitar a construção conjunta do pensamento.
  • Apoia a criatividade das crianças na procura de soluções para os problemas que se colocam na vida do grupo e nas diferentes áreas de conteúdo.

 

Convivência democrática e cidadania

A vida no jardim de infância deverá organizar-se como um contexto de vida democrática, em que as crianças exercem o seu direito de participar, e em que a diferença de género, social, física, cognitiva, religiosa e étnica é aceite numa perspetiva de equidade, num processo educativo que contribui para uma maior igualdade de oportunidades entre mulheres e homens, entre indivíduos de diferentes classes sociais, com capacidades diversas e de diferentes etnias. Esta diversidade é entendida como forma de educação intercultural ,em que as diferentes maneiras de ser e de saber contribuem para o enriquecimento da vida do grupo, para dar sentido à aquisição de novos saberes e à compreensão de diferentes culturas. 

A promoção de uma maior igualdade de género é, nomeadamente, um elemento fundamental da educação para a cidadania e da construção de uma verdadeira democracia. Lidar com as diferenças sem as transformar em desigualdades é um dos grandes desafios da educação na atualidade. Compete ao/à educador/a desenvolver uma ação intencional, que conduza a uma efetiva igualdade de oportunidades entre rapazes e raparigas, no processo de socialização experienciado no jardim de infância.

 

Debate e negociação

A vida em grupo implica confronto de opiniões e necessidade de resolver conflitos que suscitarão a necessidade de debate e de negociação, de modo a encontrar uma resolução mutuamente aceite pelos intervenientes.

 

Tomada de consciência e aceitação de perspetivas e valores diferentes

Deste modo, a participação das crianças na vida do grupo permite-lhes tomar iniciativas e assumir responsabilidades, exprimir as suas opiniões e confrontá-las com as dos outros, numa primeira tomada de consciência de perspetivas e valores diferentes, que facilitam a compreensão do ponto de vista do outro e promovem atitudes de tolerância, compreensão e respeito pela diferença.

 

Educação para a cidadania

É neste contexto que se desenvolve a educação para a cidadania, enquanto formação de pessoas responsáveis, autónomas, solidárias, que conhecem e exercem os seus direitos e deveres, em diálogo e no respeito pelos outros, com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo.

A educação para a cidadania relaciona-se também com o desenvolvimento progressivo do espírito crítico face ao mundo que rodeia a criança, incluindo nomeadamente os diferentes meios de comunicação com que contacta no dia a dia. 

 

Respeito e valorização pelo ambiente natural e social e paisagístico

O respeito e a valorização do ambiente natural e social e do património paisagístico são ainda abordados na Formação Pessoal e Social, numa perspetiva de corresponsabilização do que é de todos no presente e tendo em conta o futuro. O desenvolvimento destes valores articula-se e concretiza-se através de aprendizagens realizadas noutras áreas e domínios, nomeadamente a Educação Artística e o Conhecimento do Mundo.
 

Aprendizagens a promover:

  • Desenvolver o respeito pelo outro e pelas suas opiniões, numa atitude de partilha e de responsabilidade social. 
  • Respeitar a diversidade e solidarizar-se com os outros.
  • Desenvolver uma atitude crítica e interventiva relativamente ao que se passa no mundo que a rodeia.
  • Conhecer e valorizar manifestações do património natural e cultural, reconhecendo a necessidade da sua preservação.

Estas aprendizagens podem ser observadas, por exemplo, quando a criança: 

  • Espera pela sua vez na realização de jogos e na intervenção nos diálogos, dando oportunidades aos outros para intervirem.
  • Contribui para a elaboração das regras de vida em grupo, reconhece a sua razão e necessidade e procura cumpri-las.
  • É progressivamente capaz de resolver situações de conflito de forma autónoma, através do diálogo. 
  • Perante opiniões e perspetivas diferentes da sua, escuta, questiona e argumenta, procurando chegar a resoluções ou conclusões negociadas.
  • Demonstra comportamentos de apoio e entreajuda, por iniciativa própria ou quando solicitado.
  • Reconhece a diversidade de características e hábitos de outras pessoas e grupos, manifestando respeito por crianças e adultos, independentemente de diferenças físicas, de capacidades, de género, de etnia, de cultura, de religião ou outras.
  • Reconhece que as diferenças contribuem para o enriquecimento da vida em sociedade, identificando esses contributos em situações do quotidiano.
  • Aceita que meninos e meninas, homens e mulheres podem fazer as mesmas coisas em casa e fora de casa.
  • Identifica no seu contexto social (grupo, comunidade) algumas formas de injustiça ou discriminação, (por motivos de etnia, género, estatuto social, de incapacidade ou outras), propondo ou reconhecendo formas de as resolver ou minorar.
  • Conhece manifestações do património artístico cultural e paisagístico (local, regional, nacional e mundial), manifestando interesse e preocupando-se com a sua preservação.
  • Desenvolve um sentido estético perante manifestações artísticas de diferentes tempos e culturas. 
  • Reconhece a importância do património natural, identifica algumas das ameaças à sua conservação e adota práticas “amigas” do ambiente. 
  • Utiliza diferentes recursos tecnológicos, enquanto meios de conhecimento, de expressão e comunicação e conhece os cuidados a ter.

 

O/A educador/a promove estas aprendizagens quando, por exemplo:

  • Organiza o ambiente educativo, de modo a que todos, independentemente do género, etnia, capacidade intelectual ou física, sintam que fazem parte do grupo e têm as mesmas oportunidades. 
  • Seleciona materiais e recursos que não veiculem estereótipos de género, cultura ou etnia.
  • Dialoga com as crianças sobre o modo como perspetivam a diferença (de género, cultura, etnia, etc.), apoiando-as a compreender situações de injustiça ou discriminação e a propor soluções. 
  • Manifesta respeito pelas necessidades, sentimentos, opiniões, culturas e valores das crianças e adultos.
  • Valoriza as diversidades culturais das crianças e das suas famílias.
  • Incentiva a tomada de decisão individual e coletiva e a resolução de conflitos pelo diálogo.
  • Escuta o que as crianças dizem, apoia a explicitação das suas opiniões e incentiva a sua participação ativa nas conversas.
  • Conversa com as crianças sobre os programas de TV favoritos, estimulando o debate de perspetivas diferentes.
  • Incentiva boas práticas de proteção da natureza e dos bens culturais.
  • ….

 

Componentes

Aprendizagens a promover

Construção da identidade e da autoestima
  • Conhecer e aceitar as suas características pessoais e a sua identidade social e cultural, situando-as em relação às de outros.
  • Reconhecer e valorizar laços de pertença social e cultural.
Independência e autonomia
  • Saber cuidar de si e responsabilizar-se pela sua segurança e bem-estar.
  • Ir adquirindo a capacidade de fazer escolhas, tomar decisões e assumir responsabilidades, tendo em conta o seu bem-estar e o dos outros.
Consciência de si como aprendente
  • Ser capaz de ensaiar diferentes estratégias para resolver as dificuldades e problemas que se lhe colocam.
  • Ser capaz de participar nas decisões sobre o seu processo de aprendizagem.
  • Cooperar com outros no processo de aprendizagem.
Convivência democrática e cidadania
  • Desenvolver o respeito pelo outro e pelas suas opiniões, numa atitude de partilha e de responsabilidade social. 
  • Respeitar a diversidade e solidarizar-se com os outros.
  • Desenvolver uma atitude crítica e interventiva relativamente ao que se passa no mundo que a rodeia.
  • Conhecer e valorizar manifestações do património natural e cultural, reconhecendo a necessidade da sua preservação.

 

Sugestões de reflexão:

  • Que estratégias desenvolve para, no contexto de grupo, estar atento a cada criança?
  • O que faz quando uma criança diz: “não sou capaz” ou “não sei”? Como estimula a participação e a expressão daquelas que não o fazem espontaneamente?
  • Como lida no grupo com a diversidade de crenças religiosas, de hábitos culturais e de conceções educativas das famílias? Como tem em conta e aborda essa diversidade na sua relação com as famílias?
  • Como organiza o espaço e seleciona materiais e livros, de modo a não veicular estereótipos de género, étnicos, estéticos, etc.?
  • Como faz quando uma ou várias crianças não cumprem uma regra estabelecida? 
  • Quando considera necessário intervir num conflito entre as crianças? Que atitudes toma? Em que situações considera que o/a educador/a tem de intervir?  
  • Como reconhece e valoriza as características e potencialidades de cada criança?
  • Como envolve as crianças no processo de planeamento e na avaliação? 
  • Prevê na rotina diária tempo para as crianças escolherem e partilharem com o grupo o que fizeram, como fizeram e o que descobriram? Como valoriza os contributos individuais para o alargamento das aprendizagens do grupo?
  • Como apoia as crianças individualmente ou em pequeno grupo a construírem o seu pensamento? 
  • Como dá voz às crianças e as apoia a explicitarem as razões das suas escolhas, opiniões e tomadas de decisão? 
  • Como ajuda as crianças a valorizarem o património cultural, paisagístico e natural? O que faz para as crianças conhecerem e valorizarem esses patrimónios?